Tezani Escritório de advocacia criminal

Advogado criminalista atuou nas primeiras fases da operação e acredita que ela vá se alastrar para o resto do Brasil

por Giselle Hilário

Entrevista da Semana com o advogado Thiago Luis Tezani

Quem conversa com Thiago Luís Rodrigues Tezani custa a acreditar que ele atua em áreas “espinhosas”

do direito. Advogado criminal, tem entre os principais clientes envolvidos em operações como a Lava Jato, onde atua em defesa de um acusado de São Paulo, e homicídios. Por quê? “Porque todo mundo tem direito à defesa”, afirma. “Sempre quis defender os outros. Já entrei na faculdade pensando em ser advogado (não em concursos). Sou extremamente parcial, tenho um lado na briga, que é o outro”, emenda. Advogado “quase que em tempo integral”, como diz, Tezani vê na literatura, na guitarra e no boxe válvulas de desestresse. Veja a seguir, os principais pontos da entrevista.

JC – O senhor é advogado criminal. Uma área cheia de preconceito por parte de algumas pessoas.

Arquivo pessoal
Tezani usa o boxe para desestressar e manter a forma

 

Thiago Tezani – Só mexo com direito criminal. Estou formado há 15 anos e isso já deve fazer quase dez anos. É uma área meio complicada, mas é a melhor área.

JC – O senhor sempre quis a área criminal?

Tezani – Não. Teve uma operação chamada Garra Rufa, há alguns anos, e uma das pessoas detidas me ligou. E fui. O pessoal dos laboratórios acusados mandou advogados famosos de São Paulo para Marília, sede da operação. E eles não estavam conseguindo as coisas. E eu, por ser daqui, tive mais facilidade. Acabei fazendo parceria com esses escritórios de São Paulo e gostei da área criminal. Fui estudar, fazer cursos fora do País e me encontrei nessa área.

Arquivo pessoal
O advogado durante pescaria de sucesso no rio Paraná

 

JC – O senhor deve ouvir muitas perguntas do tipo “Vale a pena defender bandido?”.

Tezani – É preciso deixar claro: a gente defende o procedimento. Não é dizer se a pessoa é culpada ou inocente. Todo mundo tem direito à defesa. Essa é a primeira regra. E a gente defende a legalidade do procedimento, principalmente agora, por conta das últimas operações e do fato de as pessoas estarem com sede de justiceiros. Não de Justiça. Hoje, o principal desafio do advogado criminalista é fazer com que se cumpram as regras do jogo, que não se “comam” procedimentos, garantias. E isso está sendo bem difícil.

Arquivo pessoal
Thiago Tezani e a esposa Luciana (vestido verde), com os pais Ana Francisca e Luiz, a irmã Thais e o cunhado Luiz

 

JC – Por quê?

Tezani – Autoridades mais justiceiras sempre existiram, mas eram casos mais isolados. E a Lava Jato difundiu isso por todo o Brasil. Ela foi o divisor de águas. Há procedimentos na Lava Jato bizarros, como passar por cima de procedimentos, de garantias. Eu sou do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais e a gente discute isso lá. Claro que se a pessoa é culpada, ela merece uma pena, mas um processo justo e uma pena justa. A partir do momento em que o Estado fica tão autoritário que ele próprio não cumpre as regras que ele impõe ao cidadão, é pior que ditadura.

JC – O senhor já atuou na Lava Jato.

Tezani – Tive um cliente logo no começo, nas primeiras fases. Meu cliente, de São Paulo, foi acusado de lavagem de dinheiro para o Paulo Roberto Costa e organização criminosa. Ficou preso por um ano no Complexo Médico do Paraná, junto com todos da Lava Jato. A pena dele foi de cinco anos e ele já está com tornozeleira eletrônica na casa dele. O caso está com recurso no Tribunal Regional Federal.

JC – O senhor está atuando num caso de homicídio envolvendo a família Sarney.

Tezani – É o caso do Lucas Porto, que está sendo acusado de estuprar e matar Mariana Costa, sobrinha-neta do senador José Sarney. Atuei também, em Bauru, no caso da Fernanda Tripodi [morta em dezembro de 2009, teve a ossada encontrada em outubro de 2011, na estrada rural que liga Bauru a Santelmo, distrito de Pederneiras]. Eram três acusados. O meu cliente foi o único que foi absolvido.

JC – Como o senhor consegue se distanciar de casos assim?

Tezani – Eu não minto. Não digo que a pessoa é inocente, se ela não for. Digo que é culpada, mas por que fez isso? Júri popular não tem apego aos tecnicismos da lei. A pessoa vai pela intuição, pelo bom-senso. Então, se você joga limpo com ela, a chance de êxito é maior. Tem que responsabilizá-lo pelo que ele fez, mas ele tem direito à defesa.

JC – O senhor já concorreu à OAB de Bauru. Vai concorrer outra vez?

Tezani – Concorri em Bauru duas vezes por causa de uma ligação muito forte com o [Alberto Zacharias] Toron, um dos expoentes da área criminal. Ele me incentivou. E porque achava que devia algumas coisas aos advogados. Hoje, tenho uma carreira mais ou menos equilibrada. Então, é uma forma de eu retribuir tudo que a advocacia me proporciona. Fui estudar fora, conheci pessoas maravilhosas. Devo tudo à advocacia. Achei que me candidatando, poderia ajudar outros advogados a trilhar uma luta mais fácil.

JC – Foi difícil chegar até aqui?

Tezani – Sou formado na ITE. Logo que formei, abri uma portinha perto do shopping. Ficava o dia inteiro sentado esperando o telefone tocar, alguém entrar. Começo é difícil para todo mundo. Tinha 22 anos, fui fazer a primeira pós-graduação na Universidade Estadual de Londrina (UEL). E uma coisa foi puxando outra, um cliente vai indicando outro e as coisas foram acontecendo. Devagar, mas foram.

JC – O senhor é de família de advogados?

Tezani – Meu pai, Luiz Aldo, era advogado dos Correios.

JC – Veio daí o desejo de fazer Direito?

Tezani – Sempre quis defender os outros. Já entrei na faculdade pensando em ser advogado. Nunca pensei em concurso. Sou extremamente parcial, tenho um lado na briga, que é o outro. Me nomearam juiz do Tribunal de Ética da OAB e eu não consegui julgar ninguém (risos). O primeiro caso eu devolvi.

JC – E como o senhor vê o trabalho da OAB?

Tezani – Em Bauru, faz um trabalho bom com relação à população. No Estado, não. É mais capenga.

JC – Voltando à Lava Jato. Lá se vão mais de três anos de investigações. O senhor vê o fim dela?

Tezani – Acredito que a Lava Jato vai demorar muito para acabar. Na verdade, vai sair de Curitiba e se alastrar para o resto do Brasil por conta das delações, que acabaram pegando não apenas a parte da União, mas também dos Estados e municípios, por conta de empresas denunciadas.

JC – O senhor acha que melhorou alguma coisa com a Lava Jato?

Tezani – Eu acredito que não. A corrupção continua, as pessoas não ficaram com medo.

JC – Por quê?

Tezani – A criminologia, estudo do crime de forma ampla, fala que todo criminoso tem a certeza que não vai ser pego. O que diminui a criminalidade é a certeza da punição, que no Brasil é muito falha. Aqui, um crime de 30 anos demora dez para pessoa começar a cumprir. E quando começa, sabe que não vai cumprir toda a pena. Isso causa sensação de impunidade. Deveriam diminuir as penas, mas elas deveriam ser cumpridas.

JC – Que legado a Lava Jato vai deixar?

Tezani – A parte boa, de combate à corrupção, delação premiada. E a parte ruim, que é o desrespeito às garantias individuais.

JC – O que não é observado, em sua opinião?

Tezani – Estão com discurso punitivista para dar resposta imediata para a população. Por isso, comem procedimentos.  A Lava Jato está avançando muito em alguns aspectos, mas nos processuais de garantias individuais, do respeito aos procedimentos, está retrocedendo décadas.

PERFIL

O bauruense Thiago Luís Tezani nasceu no dia 4 de novembro de 1979. É casado com a também advogada Luciana. Mas ele garante que não existem divergências entre o trabalho dos dois, já que ela trabalha com marcas e patentes. Eles têm dois cães Thor e Filó, ativos Bull Terriers de 7 e 4 anos, que são o xodó da casa e adoram uma arte. “Arrebentam o jardim direto”, para desespero de Thiago Tezani, que adora plantas. Ele até tem um lago de carpas e um orquidário em casa. Leitura e boxe são seus hobbies. É “torcedor sofredor” do Noroeste, mas gosta de lutas – boxe, judô e MMA. Ele dá nota 10 para os pais, Luiz Aldo e Ana Francisca. “Eles me criaram da melhor forma e sempre me apoiaram em tudo. A maioria recrimina quem vai para o criminal, diz que vai defender bandido. Eles sempre me apoiaram.” Nota zero? “Para os justiceiros que estão causando uma ditadura velada, mas uma ditadura.”